Descriminalizar ou não descriminalizar, eis a questão

       As drogas geraram problemas tão sérios na vida dos brasileiros que muitos decidiram apoiar seja a descriminalização, seja a legalização como uma solução mágica para a violência que nos afeta quotidianamente. Eu acredito que uma ou outra acarretariam uma redução de um tipo de homicídios, os diretamente vinculados à comercialização das drogas e à sua repressão. Porém, a possível rdução dos homicídios é, apenas, uma das consequências.  O crescimento do consumo, que é esperado, gera, de acordo com abundantes pesquisas, um sério problema com o aumento de suicídios, de depressões e de surtos psicóticos.  Abaixo faço uma listagem e uma breve descrição de algumas dessas pesquisas.


Ver Bovasso, GB. Cannabis abuse as a risk factor for depressive symptoms. The American Journal of Psychiatry, 158:2033–2037, 2001.


  • Outra pesquisa, de Greenblat, com adolescentes (de 12 a 17 anos) mostra que os que fumavam maconha semanalmente triplicavam o risco de ter ideações suicidas, em relação aos que não fumavam maconha.

Ver Greenblatt, J. Adolescent self-reported behaviors and their association with marijuana use. SAMHSA, 1998.


  • Uma opção metodológica simples é, simplesmente, saber se o adolescente fumou/não fumou maconha no último ano. E problemática porque não distingue entre níveis de consumo, mas Brook mostrou que o simples ter fumado (que inclui todos os que fumaram, muito, médio e pouco) triplicava os pensamentos sobre o suicídio, as ideações suicidas.

Ver Brook, JS et al. The effect of early marijuana use on later anxiety and depressive symptoms. NYS Psychologist, 35–40, 2001.


  • Evidentemente, existe o perigo de "endogenia genética", de que os que fumam teriam uma predisposição genética tanto a fumar quanto a doenças mentais e ao suicídio. Para esclarecer esse ponto, os estudos com gêmeos são essenciais. Numa pesquisa na qual um dos (ou das) gêmeos era dependente da maconha e outro(a) não, os dependentes tinham um risco quase três vezes mais alto de pensar sobre o suicídio e de tentar o suicídio do que os não dependentes.

Ver Lynskey, M et al. Major depressive disorder, suicidal ideation, and suicide attempt in twins discordant for cannabis dependence and early-onset cannabis use. Archives of General Psychiatry, 61:1026–1032, 2004.


  • O uso da maconha na juventude está relacionado com o risco de surtos psicóticos na vida adulta. Não são poucas as pesquisas que permitem essa conclusão.
Entre elas, ver Andreasson, S et al. Cannabis and schizophrenia: A longitudinal study of Swedish conscripts. Lancet, 26:1483–1486, 1987. Fergusson, DM et al. Cannabis dependence and psychotic symptoms in young people. Psychological Medicine, 33:15–21, 2003. van Os, J et al. Cannabis use and psychosis: a longitudinal population-based study. American Journal of Epidemiology, 156:319–327, 2002.



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Comentários

Anônimo disse…
Olá , penso que a relação cannabis suicídio é irrelevante.Tendo em vista que, a cannabis age no cerebro das pessoas de maneira a "despertar" o que lá já está, o ato suicida seria uma pré-disposição de certa pessoa.
Se formos fazer associações desse tipo, por que não incluirmos os pensamentos artísticos que a mesma desencadeia,que leva pessoas a pensarem e sentirem coisas incompriensíveis para certas pessoas que limitam o uso a associações vagas(já que mostram dados partindo de UM pressuposto).
Qualquer objeto de nosso mundo infuencia no comportamento de um ser humano, se ele tiver tendência a "tal" coisa, irá acontecer.
O que no meu modo de entender é o grande erro são essas associações que tendem a cada dia fazer mais pessoas a criminalizarem o usuário, fazendo com que eles fiquem a margem da sociedade.
O princípio básico que esquecemos é que UM É IGUAL ao outro, todos temos o mesmo valor.A partir do momento que taxamos "usuários" de cannabis como marginais, só tendemos a colaborar com desigualdade que está visível a cada um de nós brasileiros.
Por isso que quando vejo temas referente a legalização ou discriminação da cannabis fico com um pé atras, já que os fatos não são só mercado, dinheiro, política e economia que estão em jogo e sim, o caráter de um cidadão.
Vai a pergunta: adianta uma lei para legalizar(ou discriminalizar), se as pessoas taxam usuário como marginal?
O preconceito não tenderia a aumentar, já que o uso seria mais visível?
Defendo que antes de uma lei, cada pessoa sã faça sua parte passando informações "não manipuladas" as outras.

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