Divórcio e suicídio

Em 2000, uma excelente pesquisa de Augustine Kposowa foi publicada no Journal of Epidemiology and Community Health. A pesquisa demonstrou que os divórcios e separações contribuem para que muitos homens se suicidem. Os divorciados e separados tinham um risco de suicídio duas vezes e meia o dos casados. É, claro, possível que terceiras causas tenham provocado os dois, mas a a pesquisa "controlou" importantes variáveis associadas com o suicídio.

Qual o efeito do divórcio sobre o risco de suicídio das mulheres? Há dois chutes, frutos do mais puro achismo, o que não impede que um seja verdadeiro:

* as mulheres divorciadas se suicidam mais, tanto porque sofrem mais com a quebra da família, quanto porque são deixadas em piores condições ou
* as mulheres se suicidam menos porque muitos casamentos são opressivos e o divórcio significa um alívio que compensa as demais perdas.

Qual a hipótese correta?

Nem uma, nem outra. Entre as mulheres, o divórcio não altera o risco de suicídios.

A "hipótese financeira" esquece que, se bem muitas mulheres ficam mal depois do divórcio, os homens também são afetados.

Então, porque os homens se suicidam mais?

Uma explicação, apoiada por Kopsowa, propõe que o capital social das mulheres é maior; elas tem mais amigos e amigas do que os homens. As amizades também são diferentes. A amizade entre mulheres aumenta a probabilidade de que elas conversem sobre essas coisas, como relacionamentos, emoções, sofrimentos. A amizade entre homens seria mais no sentido de fazer coisas juntos.

Eu lembro que há outro fator importante, que é o maior uso de armas de fogo nas tentativas de suicídio de homens e o maior uso de remédios por mulheres (não só divorciados e divorciadas). Outro fator que parece pesar é a perda do papel de pai que é importante entre muitos, mas não todos. Os filhos, usualmente, ficam com as mães. Filhos são, ao mesmo tempo, significam trabalho, mais custo e menos tempo disponível, mas também significam maior proteção.

Kposowa estudou mais de 472 mil pessoas de 1979 a 1989. Nesse período, 545 se mataram, quatro vezes mais homens do que mulheres.

Alvin Baraff, Ph.D., fundador e diretor do Men Center Counseling em Washington, D.C. também diz que mais homens se sentem responsáveis e culpados pelo divórcio do que mulheres. Nos Estados Unidos, as mulheres iniciam processos de divórcio com mais frequência do que os homens. Baraff também afirma que muitos homens são apanhados de surpresa, embora as esposas tenham deixado todo tipo de sinais que eles não sabem ler. Baraff, especialista na perspectiva masculina, diz que os homens perdem a esposa, os filhos, renda, usualmente a casa.

A pesquisa de Kposowa também concluiu que o risco de suicídio aumenta com a idade (os com 65 e mais tem um risco 55% mais elevado do que os com 15 até 24. O efeito-idade vale para os dois sexos.

E no Brasil? Não sabemos. Mundo afora essas questões são estudadas por sociólogos, mas os sociólogos brasileiros pesquisam pouco, dedicando-se a repetir o que os clássicos disseram e escreveram há muito tempo. Pesquisa já

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