Dívidas e ideações suicidas
Uma pesquisa feita na área médica da Universidade de Leicester demonstrou a relação entre estar endividado e as ideações suicidas. Meltzer e associados entrevistaram quase sete mil e quinhentas pessoas, que estavam na amostra da terceira pesquisa nacional de morbidade (doenças) psiquiátricas na Inglaterra em 2007. Introduziram uma importante dimensão temporal nas ideações suicidas: se tiveram essas ideações na semana que passou, no ano que passou ou em algum momento da vida. Essa é a variável dependente.
A dívida não acompanhou essa temporalidade: somente as atuais foram consideradas.
Os dados são compatíveis com nossa hipótese a respeito da relação negativa entre dívida e qualidade da vida. Um em cada vinte e três ingleses pensou em se suicidar no ano anterior. Essas ideações variaram com o gênero e com a idade. Um dos níveis mais baixos foi o dos homens com 55 anos (apenas 1,8%) e um dos mais altos foi o das mulheres entre 35 e 54 anos – nada menos de 7% tiveram ideações suicidas (uma em quatorze).
E as dívidas? Os endividados tiveram o dobro das ideações suicidas! Vejam que essa é uma relação "limpa", controlando pelos fatores que influenciam as ideações suicidas e que foram incluídos na pesquisa: sócio-demográficos, econômicos, sociais e os associados ao estilo de vida. Que tipo de dificuldade? Em comprar a crédito, em pagar as dívidas anteriores e, particularmente, as dívidas relacionadas com a moradia (pagamento de alugueis e de hipotecas, que trazem conseqüências sérias como não ter onde morar e/ou perder a casa ou apartamento).
Essas relações com as ideações suicidas não eram diretas: muitas passavam por uma sensação de desesperança, de falta de oportunidade – real ou falsa.
As dívidas, parte importante do funcionamento do capitalismo moderno, não são apenas um recurso econômico, mas podem ser, também, um problema de saúde pública.
Escrito por Gláucio Soares com base em
Meltzer H, Bebbington P, Brugha T, Jenkins R, McManus S, Dennis MS., do Department of Health Sciences, College of Medicine, Biological Sciences and Psychology, University of Leicester, UK., "Personal debt and suicidal ideation", em Psychol Med. 2010 Jun 16:1-8.
A dívida não acompanhou essa temporalidade: somente as atuais foram consideradas.
Os dados são compatíveis com nossa hipótese a respeito da relação negativa entre dívida e qualidade da vida. Um em cada vinte e três ingleses pensou em se suicidar no ano anterior. Essas ideações variaram com o gênero e com a idade. Um dos níveis mais baixos foi o dos homens com 55 anos (apenas 1,8%) e um dos mais altos foi o das mulheres entre 35 e 54 anos – nada menos de 7% tiveram ideações suicidas (uma em quatorze).
E as dívidas? Os endividados tiveram o dobro das ideações suicidas! Vejam que essa é uma relação "limpa", controlando pelos fatores que influenciam as ideações suicidas e que foram incluídos na pesquisa: sócio-demográficos, econômicos, sociais e os associados ao estilo de vida. Que tipo de dificuldade? Em comprar a crédito, em pagar as dívidas anteriores e, particularmente, as dívidas relacionadas com a moradia (pagamento de alugueis e de hipotecas, que trazem conseqüências sérias como não ter onde morar e/ou perder a casa ou apartamento).
Essas relações com as ideações suicidas não eram diretas: muitas passavam por uma sensação de desesperança, de falta de oportunidade – real ou falsa.
As dívidas, parte importante do funcionamento do capitalismo moderno, não são apenas um recurso econômico, mas podem ser, também, um problema de saúde pública.
Escrito por Gláucio Soares com base em
Meltzer H, Bebbington P, Brugha T, Jenkins R, McManus S, Dennis MS., do Department of Health Sciences, College of Medicine, Biological Sciences and Psychology, University of Leicester, UK., "Personal debt and suicidal ideation", em Psychol Med. 2010 Jun 16:1-8.
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