Tratar formas menos agressivas do câncer da próstata, hoje, produz melhores resultados do que no passado


Tratar de maneira conservadora formas menos agressivas do câncer da próstata, hoje, produz melhores resultados do que no passado. É o que concluem pesquisadores que compararam os tratamentos deste tipo antes e depois de 1990. Dez anos depois do diagnóstico, a mortalidade específica do câncer foi 74% menor dos cânceres diagnosticados entre 1992 e 2002 do que nos diagnosticados antes desse período. Todos esses cânceres foram tratados de forma conservadora, não invasiva.

Por quê?

Há muitas sugestões. Os cânceres estão sendo diagnosticados antes, graças ao PSA e à crescente conscientização. Há mais cânceres "insignificantes" diagnosticados agora do que antes – cânceres que não matam em dez, quinze e mais anos. E o tratamento melhorou, progrediu, mesmo os não invasivos. Hoje em dia, pacientes com cânceres localizados (que não metastizaram, ou ainda não metastizaram) recebem tratamento melhor do que antes. Por isso não morrem do câncer e acabam morrendo de outras causas. Pacientes com Gleason baixo (cânceres cujas células são bem diferenciadas) e até pacientes cujas células cancerosas são menos diferenciadas (Gleason mais alto do que o anterior) estão vivendo mais tempo e morrendo menos do câncer.

Os autores concluem que pacientes idosos com Gleason baixo ou intermediário teriam uma alta probabilidade de não morrer do câncer no prazo de dez anos. Se a expectativa de vida for menor do que isso, um tratamento invasivo, com pesados efeitos colaterais, não faz sentido.

Perto de 85% dos cânceres estão confinados à próstata. Homens com menos de 65 anos têm vantagens de sobrevivência se adotarem terapias com intenção curativa (prostatectomia, radiação e braquiterapia). Segundo os autores tal não é o caso de pacientes bem mais idosos. Não obstante, a agressividade e a contenção do câncer ao órgão são muito importantes. Nos Estados Unidos, 17% dos homens são diagnosticados com esse câncer todos os anos e 3% morrem dele – um em seis. A sobrevivência é mais baixa nos países menos desenvolvidos.

Os pesquisadores analisaram os dados de seguradoras (Medicare, em certo sentido equivalente ao SUS) e outros arquivos. Verificaram que havia quase 15 mil homens com mais de 65 anos com cânceres localizados (T1-T2) diagnosticados entre 1992 e 2002, que foram acompanhados durante, pelo menos, um ano. Com outros arquivos verificaram a sobrevivência geral até o fim de 2007 e a sobrevivência específica até o fim de 2005.

A mediana da idade dos pacientes era 78 no momento do diagnóstico e foram acompanhados por uma mediana de 8,3 anos. Mais de dez mil tinham 75 ou mais. Nada menos de ¾ tinham Gleasons de 5 a 7 e em 31% dos casos o câncer estava visível em um dos recursos visuais usados (cintilo etc.). Em nada menos de 42% o toque retal indicou o câncer. Em 70% não havia outras doenças importantes. Os resultados de períodos anteriores, necessários para a comparação, foram retirados de artigos publicados.

Quantos morreram? Nos dez primeiros anos, 15 dos 222 pacientes com cânceres pouco agressivos morreram do câncer (7%). Para eles teria sido aconselhável um tratamento invasivo. Porém, nada menos de 133 (60%) morreram de outras causas – a grande maioria dos que morreram. Morreram com o câncer, mas não dele. No caso de pacientes com cânceres intermediários, 642 de quase onze mil pacientes morreram do câncer, praticamente a mesma percentagem dos cânceres menos agressivos e outros 46% morreram de outras causas. No caso dos cânceres com células pouco diferenciadas, mais agressivas, a diferença de ter um Gleason alto se faz sentir: 21% morreram do câncer. Mesmo assim, metade do total de pacientes morreu de outras causas, 238% os que morreram do câncer. Muito mais. Os dados calculados pelos autores nos dão 8,3%, 9,1% e 25,6% mortos pelo câncer no prazo de dez anos.

Isso não significa que os pacientes não receberam qualquer tratamento!!!!! Significa, apenas, que não foram submetidos a tratamentos agressivos, invasivos desde o início.

E o contraste, as diferenças?

No grupo recente o risco de morte em dez anos foi de 6%. Já entre os cânceres diagnosticados há mais tempo (de 1949 a 1992) os estudos publicados mostram mortalidade específica de 15% a 23% para os cânceres moderadamente diferenciados no prazo de dez anos. Segundo os autores, houve uma redução de 60% a 74% nesse tipo de mortalidade. Os autores também mostram maior sobrevivência em pacientes mais idosos e com cânceres agressivos, a despeito do tratamento inicial ser conservador.



GLÁUCIO SOARES                 IESP-UERJ



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