Primeiro, o câncer da esposa; agora, o do marido


Esta é a estória de um americano que passou muito tempo cuidado da esposa que sofria de mielomas múltiplos. Os avanços nos cânceres significam tanto uma taxa de cura mais elevada quanto uma sobrevivência bem maior do que há algumas décadas. A sobrevivência raramente é sem efeitos, ou com efeitos toleráveis, como a minha até agora. O mieloma e seu tratamento causam muita dor e outros sintomas.

Finalmente, depois de muitos anos de luta, ela faleceu. Durante todo esse tempo ele ficou, fielmente, como o principal careaker, a pessoa que cuida do doente (e que também tem que ser cuidada). Cinco anos depois, fez seus exames de rotina e descobriu que tinha uma forma agressiva de câncer da próstata. Depois de ver o que a esposa tinha sofrido, nosso amigo entrou em depressão. Sabia pouco e, como bom americano com instrução pelo menos secundária, foi se informar. Leu muito em pouco tempo, analisou os tratamentos e seus efeitos colaterais, chegando à conclusão de que era uma escolha difícil. O tratamento que parecia oferecer melhores resultados, a prostatectomia, tinha pesados efeitos colaterais. Um amigo ficou usando fraldas muitos anos, vários ficaram impotentes. Além disso, como tinha feito várias cirurgias cardíacas e tinha um aneurisma na aorta, a prostatectomia não era aconselhável. Por contraste, se deu conta de que o câncer da próstata era muito menos doloroso do que o mieloma (e do que muitos outros cânceres). Escolher o tratamento deu problemas inesperados. Chegou à conclusão de que o tratamento adequado tinha um nome complicado, CyberKnife Radiosurgery, disponível no WellStar Kennestone Cancer Center, em Marietta, na Geórgia. CyberKnife é um nome inadequado: não é cirurgia e tem poucos efeitos colaterais. Foram os brandos efeitos colaterais que o atraíram. Na idade dele, as diferenças entre as taxas de cura eram menos importantes.

Decisão fácil, não é? Não. Os problemas começaram depois: o seguro não queria pagar. O procedimento era novo, insuficientemente testado, e era caro. A opção era fazer um apelo legal em um mês ou outro tratamento. Como o câncer era agressivo, não poderia esperar muito tempo. Apelou, mas fez o tratamento desejado antes do resultado. O processo ainda está rolado, ainda que lá dure muito, muito menos tempo do que aqui.

O tratamento durou cinco dias, uma hora cada. Enquanto fazia o tratamento, emplacou 67 anos, com direito a festinha e bolinho. O PSA caiu dramaticamente, de 6,8 para 0,6 em 4 meses. Como não foi prostatectomia, pode estar curado. Afinal, ainda tem a próstata e a próstata normalmente produz PSA.

Nosso sobrevivente se sente bem. É doidinho da silva. Seu maior passatempo é ser piloto de automóveis de corrida... Voltou a competir, aos 68. Num fecho romântico, acha que sua esposa, hoje transformada em anjo, está cuidando dele.'



GLÁUCIO SOARES            IESP-UERJ





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