Depressão e suicidio por Roger Ancillotti

Morreremos de medo?
 
Em tempos de gripe e violência, o Brasil se depara com notícias profetizando pandemias de depressão e medo.Então, recordo-me do poeta Carlos Drummond de Andrade em seu  Congresso Internacional do Medo:
 
“Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.”
 
Em duas décadas a depressão deverá ser o maior problema de saúde pública no mundo. Estudo publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1º de setembro, aponta que a doença afetará mais pessoas que qualquer outra, incluindo o câncer. O problema também afetará os governos, que deverão arcar com os custos de tratamento da população.
 
A “epidemia silenciosa”, como chama Shekhar Saxena, do Departamento de Saúde Mental da OMS, deve afetar mais os países pobres, onde são registrados mais diagnósticos. O médico acredita que a depressão é como qualquer outra doença e que a população tem direito de ser tratada e aconselhada sobre formas de se curar. No mundo, 450 milhões de pessoas sofrem de alguma espécie de distúrbio mental.
 
Estresse, medo e depressão estão intimamente interligados. A exposição a fatores estressantes tem papel importante no desenvolvimento de transtornos depressivos. Os mecanismos envolvidos nesta relação, no entanto, ainda são pouco conhecidos.
 
Mas, o que é o estresse? O termo estresse, tomado de empréstimo da física, foi empregado em 1936 pela primeira vez por Hans Selye para descrever uma ameaça real ou potencial à homeostasia, que seria o equilíbrio dinâmico do funcionamento físico e/ou mental. O estresse e a depressão são dois desequilíbrios emocionais que se transformam em doença com muita facilidade, quando não tratados em tempo. Existem fatores que podem contribuir para o estresse como barulho, poluição, locais muito quentes, muito frios, falta de espaço, violência.
 
A má alimentação, o comer rapidamente entre ou durante as atividades, a falta de exercícios e o sedentarismo também são fortes candidatos ao estresse, além da ingestão excessiva de medicamentos, a automedicação, o uso de drogas, álcool e cigarro.
 
O estresse não acontece somente por motivos de excesso de trabalho, mas também pela insatisfação e pela falta de prazer naquilo que se faz. Já a depressão manifesta-se por medo aguçado, tristeza, cansaço, perda da apetite, baixa auto estima, ansiedade, agressividade etc.Pode ser associada ao pânico, provocando taquicardia, tremores e náuseas.
 
Vimos hoje professores ensinando em áreas de risco, conflagradas, onde às vezes o único sinal do estado é a surrada escola pública, onde as crianças têm o primeiro contato com a cidadania. Estas comunidades são visitadas, muito frequentemente, por outra presença estadual que são as forças de segurança, e neste dia, a escola não funciona.Os professores que já estão na mesma, lá se abrigam entre tiros.Haja medo!
As companhias que prestam serviços de eletricidade, gás, luz, mesmo escoltadas pela polícia, são rechaçadas à bala. Haja estresse! Questionam os governantes o porquê de tantos afastamentos por problemas psicossomáticos.
 
Da mesma forma que professores e médicos, os policiais também têm medo, estresse e depressão. A Infortunística, ciência que estuda as doenças do trabalho, nos ensina sobre o risco profissional, que pode ser genérico - incide sobre todas as pessoas, independentes das suas ocupações, por exemplo, um acidente no percurso de ida e volta ao trabalho -, específico - depende da natureza da função e da natureza do trabalho como os operadores de máquina - e genérico agravado – é a condição normal de trabalho agravada por um risco adicional externo, como o fato de ser médico em uma comunidade violenta. Haja depressão!
 
Sabe-se que a maioria dos casos de depressão ocorre em pessoas com menos de 45 anos de idade. Cerca de 50% dos casos de suicídio estão associados à depressão. Por motivos éticos óbvios as diversas mídias não costumam noticiar esta modalidade de morte.Como diria outro poeta, Chico Buarque, “a dor da gente não sai no jornal”...   




Comentários

Postagens mais visitadas