Atualização da minha atualização: um susto!

Perto de um mês antes da minha viagem para a consulta semestral para ver como anda o câncer da próstata, tive um episódio de gross hematuria - muito sangue, visível, na urina. Tomadas as devidas providências, em quatro dias estava sob controle, mas... o que a causou?

 

Meu clínico geral, aqui no Brasil, sabedor de que eu iria para a consulta, sugeriu postergar os exames mais complicados e custosos, dado que tenho amplo seguro médico nos Estados Unidos. Além disso, há muitas explicações para casos de gross hematuria, à parte de canceres.

Fiz a consulta semestral, que incluiu um exame de sangue e, dadas as circunstâncias, de urina também. Havia sangue, desta vez microscópico, mas acima do aceitável. Sugeriram que eu consultasse um urólogo perto de onde eu fico, em Shirley, Long Island. É o que fiz: mais um exame de urina com resultados idênticos. O urólogo pediu um CT urograma e uma cistoscopia. Aproveitei para juntar essa tomografia computarizada com a que teria que fazer em mais alguns meses. Meu objetivo era reduzir a radiação.

Dias depois, fiz a cistoscopia e não tenho câncer da bexiga. Nesse intervalo de três semanas li algo sobre o câncer da bexiga. Passo os fatos para os leitores.

Fatores de risco:

Fumantes: @s fumantes tem um risco de quatro a sete vezes mais elevado de desenvolver um câncer da bexiga;

Pior: como diferente de vários outros canceres, ter parado de fumar há décadas não baixa o risco a um nível próximo ao dos que nunca fumaram. O diferencial de risco diminui, mas não zera;

Ser homem: os homens tem risco mais elevado do que as mulheres;

Ter trabalhado com alguns ingredientes químicos: quem trabalhou com arsênico, colorantes, borracha, têxteis, couro e pintura tem risco mais alto. Nesse particular eu estava muito mal: tive amebas na década de 60 que se incrustaram no fígado e o tratamento era na base do arsênico. Uma parte fica com a gente, indo para o cabelo, as unhas, a pele e até os ossos e os dentes. O arsênico é expelido na urina, principalmente através dos rins. Pradosh Roy e Anupama Saha afirmam que esse metaloide encabeça uma lista de vinte substâncias perigosas. Em humanos parece haver ampla evidência de que o arsênico é um carcinogênico potente. Pior para mim;

Ter feito quimioterapia ou radioterapia. O tratamento dos canceres da próstata e do endométrio aumenta o risco de câncer da bexiga;

As infecções da bexiga também aumentam o risco;

Os homens são mais suscetíveis que as mulheres e, finalmente,

O risco cresce muito depois dos setenta anos de idade.

Na ávida leitura que precede exames onde há suspeita de câncer, aumentei o meu conhecimento sobre o câncer da bexiga. Uma boa notícia: a maioria é descoberta cedo, na superfície da bexiga, antes de invadir as camadas musculares. A taxa de cura nessa etapa é muito alta.

Uma notícia ruim: a “cura” muitas vezes não é cura. O câncer volta, de maneira que é importante acompanhar o paciente (nós mesmos), realizando exames periódicos.

O urólogo conjecturou que a causa mais provável do sangue na urina foi a radioterapia que realizei após a cirurgia, há mais de 17 anos. Ele me preparou dizendo que a radiação destrói e machuca os tecidos e que provavelmente eu continuaria tendo hematúrias, visíveis ou não.

Muito do que ocorre num consultório médico não é visível a olho nu e não habituado às sutilizas verbais do pessoal médico. Nesse caso, o médico, olhando minha ficha sobre o câncer metastizado da próstata, hesitou em sugerir exames periódicos. Hesitação de um ou dois segundos. Um parente, biólogo, que estava presente, depois deixou escapar: o câncer da bexiga detectado em estágio inicial leva vários anos para matar. Ele acha que antes disso você já abandonou esse planeta devido ao câncer da próstata.

Pode?

 

 


GLÁUCIO SOARES            IESP-UERJ

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