A crise econômica e a explosão dos suicídios na Grécia e na Irlanda


A Grécia tinha uma das mais baixas taxas de suicídio da Europa (há alguns anos, era de 2,8 por cem mil. A taxa continua entre as  mais baixas mas teve um incremento considerável nos últimos anos. Por quê? Chama a atenção a coincidência entre o crescimento da taxa e o crescimento da crise econômico-financeira grega. Somente entre janeiro e maio de 2011, segundo Helena Smith, escrevendo no The Guardian, o aumento da taxa teria sido de 40% em comparação com o mesmo período em 2010.
A principal religião da Grécia é a ortodoxa, cuja atitude em relação ao suicídio é radical: não admite um ritual religioso no caso de suicidas. A crise também se reflete no número de chamadas a instituições de auxilio a possíveis suicidas: uma delas, chamada Klimaka, diz que aumentaram dez vezes. São chamadas tanto de homens quanto de mulheres e, em tempos de crise, desemprego, medo de desemprego e temas relacionados passaram a ser os mais frequentes. A taxa de desemprego de 2011, 18%, é três vezes a do Brasil. O suicídio, com frequência, dá aviso e os consultórios de psicólogos, psicanalistas e psiquiatras estão lotados. 
O suicídio é um dos lados da moeda; o outro é o crime, que também aumentou muito. Outro indicador é a pauperização, o crescimento no número de mendigos e de sem-teto. 
Uma pesquisa sistemática, levada a cabo por David Stuckler (Cambridge University), Martin McKee (London School of Hygiene and Tropical Medicine) e Sanjay Basu (University of California San Francisco), foi publicada em Lancet, e trata das consequências da crise financeira na área da saúde: aumentam os suicídios, aumentam as tentativas de suicídio, aumentam vários tipos de doença mental, sobretudo as depressões. Dois dos países mais duramente atingidos pela crise, a Grécia e a Irlanda, foram os que tiveram as maiores elevações nas taxas de suicídio. Os dados desses pesquisadores, são mais moderados do que os publicados no The Guardian, mas se referem ao período de 2007 a 2009. 
Há mais: os membros mais recentes, como a Hungria e a Lituânia, que são países que, historicamente, têm altas taxas de suicídio, foram menos afetados – houve um aumento inferior a 1% nas taxas – mas os membros mais antigos foram mais atingidos, castigados por um aumento de quase 7%.
Não há duvida de que a crise afetou o bem estar social e psicológico das populações afetadas. O suicídio é a sua dimensão mais radical, mas há muitas outras. A crise não se mede, apenas, em Euros. 
GLÁUCIO ARY DILLON SOARES           IESP-UERJ

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