A Suíça e as mortes por armas de fogo

Em discussões a respeito dos efeitos da presença de armas de fogo nas residências sobre as mortes com armas de fogo, particularmente sobre os homicídios, frequentemente a Suíça é usada como exemplo pelos armamentistas. Não obstante, a informação é pobre e raramente os dados são analisados adequadamente.

É claro que, se quisermos discutir a Suíça como exemplo, convém ter dados atualizados e mais completos do que se lê nos jornais. Em primeiro lugar, o número de armas de propriedade de civis não é invariante no tempo: ao contrário, declinou aceleradamente: eram cerca de três milhões e quatrocentas mil em 2005 e no ano passado eram dois milhões. A taxa de armas de propriedade de cidadãos suíços declinou de 45,7 por cem em 2005 para 24,5 em 2016. A queda é aceleradíssima.

Qual o efeito da redução das armas na Suíça? A queda nas mortes totais por armas de fogo acompanhou essa redução: a taxa era de seis por cem mil em 1996, quatro em 2005 e três em 2013. Se a presença de armas se correlacionasse com a segurança, a ausência de violência e a paz, essa taxa deveria ter aumentado e não diminuído. Como em outros países “desenvolvidos”, a maioria das mortes se deve a suicídios.[i]

É importante conhecer a composição das armas: as armas de mão são menos da metade das armas de cano longo. Em 2005, 28.6% das residências suíças tinham, pelo menos, uma arma de fogo, mas apenas 10,3% tinham armas de mão (handguns). Para cada residência com uma arma de mão, havia duas com outro tipo de arma de fogo, a maioria de uso militar.

É preciso conhecer as dificuldades em contar corretamente as armas. É só ler Aaron Karp para ter uma noção.[ii]

É indispensável não confundir a propriedade de armas com a guarda de armas de propriedade do governo. Quando somente as armas de PROPRIEDADE de alguém na residência são computadas, a Suiça é, apenas, a 28o colocada entre 178 países.

É um país bem estudado. A Universidade de Sidnei lista quase cento e cinquenta trabalhos (a grande maioria disponível em inglês ou francês) em

http://www.gunpolicy.org/firearms/region/switzerland

Ou seja, a experiência suíça não apoia as pretensões dos armamentistas.


[i] WHO. 2016 ‘Inter-country Comparison of Mortality for Selected Cause of Death - Gun Suicide in Switzerland.’ European Detailed Mortality Database (DMDB). Copenhagen: World Health Organisation Regional Office for Europe. 25 June

[ii] 2007 ‘Completing the Count: Civilian firearms.’ Small Arms Survey 2007: Guns and the City; Chapter 2 (Annexes 1-5), p. 67 refers. Cambridge: Cambridge University Press. 27 August.

GLÁUCIO SOARES                   IESP-UERJ


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