Classe social, câncer e morte

O que determina o risco de morte entre cancerosos e cancerosas? São, apenas, as características da doença ou há outras variáveis que pesam? As classes sociais, ah, as classes sociais, conceito antigo que se renova a cada dia. Influenciam muito, quase tudo. O risco de morte também. Porem, para aquilatar o efeito da classe social sobre o risco é preciso refinar essa relação, aumentar a sua pureza. Para tal, devemos começar controlando os efeitos da raça, variável muito associada com a classe. Claro está que as características da doença pesam muito e devem ser controladas para "purificar" a relação, ou não saberemos onde termina o efeito dessas características e começa o da classe social.
Os pesquisadores analisaram o histórico médico de 4.844 mulheres com câncer de mama, 4.422 homens com câncer de próstata e outros 4.422 homens e mulheres com câncer do cólon. A renda e a educação dessas pessoas foram usadas para determinar sua classe. A pesquisa foi feita em 1997, em sete estados americanos.
O baixo status sócio-econômico, para começar, se relacionava com o estágio da doença, que era mais avançado entre os mais pobres.
Por que? Provavelmente porque foram diagnosticados mais tarde, quando os cânceres estavam mais avançados. As explicações para isso são múltiplas, mas saliento um comportamento diferencial das classes, com os níveis médios e altos fazendo exames (que custam caro para os mais pobres) mais cedo e um fracasso parcial de políticas públicas, que não protegeram muitos pobres em tempo hábil.
Porem, nem o tratamento é igual para todos. Os pobres receberam tratamentos menos agressivos (mais baratos). O risco relativo de morrer de qualquer causa entre as pessoas ricas e pobres era mais desigual se tinham câncer de mama: controlando pela idade, os pobres tinham um risco relativo 59% mais alto. Claro está que controlar a raça, a co-morbidade, o estágio do câncer e o tipo de tratamento reduzia a diferença. Em parte porque a diferença no risco passa pelas diferenças de diagnósticos precoces e tratamentos mais eficientes.
Entre os que sofriam de câncer de próstata, o risco de morrer (por qualquer causa) dos pobres era 33% mais alto. Os controles multivariatos mencionados acima reduziam a associação, como esperado. As diferenças entre ricos e pobres eram menores nos casos de câncer coloretal. O risco de morte dos pobres é particularmente mais alto depois dos 65 anos e entre negros e outras minorias.
A classe social é um fator de risco. A explicação passa por diagnósticos tardios e por tratamentos mais conservadores.

Postulo que resultados maiores entre os riscos de ricos e pobres caracterizam países e regiões socialmente ainda mais desiguais do que os Estados Unidos e que políticas públicas podem reduzir essas desigualdades.

Fonte:
Byers TE, Wolf HJ, Bauer KR, Bolick-Aldrich S, Chen VW, Finch JL, Fulton JP, Schymura MJ, Shen T, Van Heest S, Yin X. em Cancer. 2008 Jun 25.
PubMed Abstract
 


GLÁUCIO SOARES                IESP-UERJ



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