O fumo é um suicídio lento?



Os dados do gráfico apresentado são impressionantes. Mostram o crescimento do número de mortes atribuíveis ao fumo somente nos países industrializados. A idéia de que o fumo é um suicídio lento não é nova, mas não pode ser tão antiga. Afinal, algum tipo de intencionalidade, baseada em alguma forma de conhecimento, é necessária para caracterizar um suicídio. E esse conhecimento é muito mais recente do que o uso do fumo. O fumo está presente em pinturas maias de aproximadamente mil e quinhentos anos atrás, mas o conhecimento da relação entre fumo e doenças é de bem menos de um século. Os médicos nazistas suspeitaram dos efeitos negativos do cigarro, mas em 1938 Raymond Pearl demonstrava a associação entre o fumo e aumento do risco de doenças. Quando eu estava ensinando e pesquisando na Universidade da Califórnia em Berkeley as pesquisas "definitivas" sobre o número de anos de vida perdidas com o fumo estavam sendo feitas - primeira metade da década de 60.

Esse conhecimento ainda não chegou a muitas pessoas e um número menor ainda tem noção dos perigos do fumo secundário, não sendo raro ver mães e pais fumando junto a filhos menores, inclusive de colo. Vejamos que hoje se tem conhecimento a respeito do aumento do risco de morbidade e de mortalidade devido à obesidade, mas o número de obesos cresce.

Somente a partir desse conhecimento, em algum nível, é que poderíamos falar de fumo como suicídio lento. Muitos concluem pela hipótese de "suicídio lento" ou "suicídio disfarçado" devido à dificuldade em pensar os dois como vícios e a pensar qualquer comportamento que não se enquadre na escolha mais racional, ainda que a teoria da escolha racional exija informação.

Na minha leitura, talvez simplista, somente a partir de algum grau de conhecimento da relação entre fumo e saúde é que poderemos trabalhar com a teoria do suicídio lento.

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