A religião e o voto para Trump

A filiação religiosa e a intensidade da religiosidade foram fatores decisivos na votação para Presidente dos Estados Unidos. Foram importantes, também, em eleições anteriores; porém, nesta foram particularmente importantes.

Os eleitores cristãos que se definem como evangélicos deram 81% do seu voto a Trump, três pontos percentuais a mais do que haviam dado a Mitt Roney, ao passo que Hillary recebeu apenas 16%.

Hillary, ao defender o direito ao aborto das mulheres, certamente ganhou muitos votos femininos, mas perdeu muitos votos religiosos, particularmente evangélicos, inclusive de evangélicas. É um dos temas políticos que mais separa os americanos.

É interessante notar que o apoio do eleitorado a Trump foi em contra a opinião declarada de vários líderes religiosos, inclusive evangélicos, como Russell Moore, conhecido líder batista que declarou que as atitudes de Trump contra os imigrantes, as mulheres e outros grupos eram anticristãs. Fica claro que essas lideranças religiosas não conseguiram mudar o voto da vasta maioria dos seus fiéis.

Durante a campanha, Trump em nenhum momento se definiu como uma pessoa com muita fé. É, também, interessante que Hillary Clinton sempre que podia mencionava sua filiação à igreja metodista.

Robert P. Jones, que preside o Public Religion Research Institute, sublinhou que, ano após ano, o número de evangélicos brancos diminui – aproximadamente um por cento. Trump usou bem esse declínio, insistindo, particularmente no final da campanha: “olha bem [minha] gente, eu sou a última esperança de vocês”. Trump cravou os votos desse amplo segmento da população americana que sofre um declínio histórico nos seus números, na sua renda, no seu emprego, na sua relevância. Jones definiu bem essas dezenas de milhões de votos, eram votos carregados de nostalgia, de saudade dos bons tempos. O slogan de Trump é nostálgico: “vamos fazer a América grandiosa de novo (minha tradução não literal) ”

Pesquisa feita por Scott McConnell mostrou que os evangélicos se dividiram ao longo de linhas étnicas, raciais e partidárias. Os brancos e republicanos, a grande maioria, votou por Trump, ao passo que negros, hispânicos, asiáticos de tendência democrata votaram por Hillary.

E os católicos?

Também racharam. A sólida maioria dos brancos votou por Trump (67%), a mesma percentagem que os católicos de origem latina deu a Hillary. Ou seja, a raça e a etnia cindiram o voto católico. As palavras de Trump, definindo os imigrantes mexicanos como estupradores e criminosos não o ajudaram a ganhar votos nessas categorias.

E o Papa Francisco? Convém saber que há, na Igreja Católica nos Estados Unidos, um poderoso movimento muito conservador que se opõe as políticas, vistas como extremamente liberais, do Papa.

No conjunto, Trump ganhou entre os católicos, 52% a 45%.

Um grupo numericamente importante é o de ex-católicos. Uma anedota corrente nos Estados Unidos nos informa que a maior denominação religiosa individual (não agregada, como protestantes, mas individual, como metodistas, presbiterianos etc.) é a dos ex-católicos. Esse peso estatístico sugere que a filiação religiosa passada deve entrar nas pesquisas.

Os mórmons, religião muito conservadora, também favoreceram Trump: 61% dos votos, contra 25% dados a Clinton. Mais uma vez, Trump atropelou as lideranças religiosas, inclusive o governador Gary Herbert de Utah, estado predominantemente mórmon, que se indignou com as afirmações sexistas “impuras” de Trump a respeito das mulheres. Não obstante, os votos que Trump perdeu em Utah não foram para Hillary e sim para McMullin, que é mórmon. Ele recebeu 21% dos votos. Não obstante, o sistema eleitoral não pode ser esquecido. A perda de votos de Trump em Utah foi irrelevante. Tendo sido o mais votado no estado (46%), todos os votos de Utah no Colégio Eleitoral foram para ele.

Os judeus americanos, progressistas em questões sociais, deram 71% dos seus votos a Clinton, uma folgada margem sobre Trump, que recebeu 24%

Os muçulmanos representam menos de um por cento dos eleitores e suas preferências não entraram no filtro das religiões. Claro que podemos especular em quem a maioria votou.

E os que não tem filiação religiosa? Entre eles Hillary ganhou disparada: 68% a 28%.

Para entender as eleições americanas, as desse ano ou as anteriores, porque uns ganharam e outros perderam, não podemos deixar a religião de fora das explicações.

Leia mais: http://www.charlotteobserver.com/living/religion/article113874888.html#storylink=cpy

O Pew Research Center, agora localizado em Washington, realiza muitas pesquisas sobre religião nos Estados Unidos e no mundo. Se quiserem consultar:

http://www.pewresearch.org/


GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ



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