Há um conceito que parece “ter entrado” na Psiquiatria em alguns países, mas não em outros. É o de “dor mental”. Verrocchio e associados definem “mental pain” como “uma experiência subjetiva caracterizada pela percepção de fortes sentimentos negativos e mudança no self e sua[s] funções[s]”. Queriam conhecer as relações entre a dor mental e o suicídio. Fizeram uma busca em fontes com credibilidade mais alta e cobertura mais ampla, PubMed, Web Of Science e Scopus.
O que buscaram? Como?
Usaram operadores Booleanos “OR” e “AND”. Uma busca, claramente, era relacionada com a variável explicativa e seus vários nomes (dor mental, dor psicológica etc.) e outra buscava o fenômeno a ser explicado, o suicídio (suicid*). Complementaram com uma busca no Google Acadêmico.
Identificaram, inicialmente, 1.450 citações. Porém, como sabem todos os que usam a meta-análise em uma busca ampla, há muitos artigos metodologicamente “frouxos”. Após uma rigorosa seleção metodológica e conceitual sobraram, apenas, 42.
A meta-análise dessas 42 publicações permitiu a conclusão de que a dor mental tem uma relação íntima com o suicídio, ainda mais íntima do que a que depressão tem com o suicídio.
Pensando o problema a partir da prevenção do suicídio, essa revisão cuidadosa da literatura sugere um estado de alerta em relação a dor mental, um conceito separável do de depressão, ainda que a associação entre os dois seja íntima.
Pelo meu entendimento, situações como o envelhecimento, a perda de funções, a percepção de que há uma baixa estima coletiva do self, seja individual (por exemplo, o policial), seja coletivo (por exemplo, a PM) provocam, primeiro, a dor mental e depois podem provocar a depressão. O resultado em um número alto de casos é o suicídio.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ
Saiba mais:
Verrocchio MC, Carrozzino D, Marchetti D, Andreasson K, Fulcheri M e Bech P, Mental Pain and Suicide: A Systematic Review of the Literature, em Front Psychiatry. 2016 Jun 20;7:108. doi: 10.3389/fpsyt.2016.00108. eCollection 2016.
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