MULHERES ASSASSINADAS: quem as mata e de que maneira?

 

Uma pesquisa, levada a cabo na Carolina do Norte, analisou os casos de homicídio nos que a vítima era mulher e que aconteceram de 1988 a 1992.[i] Houve um total de 116 casos com 119 vítimas (em alguns casos houve mais de uma vítima). A informação inicial foi retirada dos arquivos do medical examiner (talvez melhor traduzido por médico forense).

Em 86% dos casos, o homicida era ou tinha sido o parceiro da vítima. A razão mais frequente encontrada era a separação (41% dos casos) e um dos sinais mais frequentes era uma história de violência doméstica (29%, que deve ser uma subestimativa porque não sabemos em quantos casos não houve denúncia). Um em cada quatro dos assassinos se suicidou posteriormente e 3% tentaram o suicídio, mas não morreram. A ineficiência do sistema policial-legal fica patenteada porque metade dos casos em que houve violência doméstica a vítima tinha buscado proteção legal ou policial. O rol das vítimas é ainda maior, porque em 43% dos casos, filhos (as) da vítima ou do assassino testemunharam o homicídio, estavam perto, descobriram o (s) cadáver (es) ou foram mortas também.

A causa próxima mais frequente do homicídio foi a separação por parte da vítima (41%) e a segunda mais frequente era um histórico de violência doméstica (29%).

Em outra pesquisa, no mesmo estado, foram codificadas e estudadas, caso a caso, todas as mulheres vítimas de femicídio com 15 e mais anos de idade, de 1991 a 1993. Os resultados confirmam os encontrados na pesquisa anterior. Nada menos do que 54% dessas mortes foram cometidas com armas de fogo e duas em três ocorreram em casa, numa residência. Mais de metade foi morta pelo parceiro ou ex-parceiro e, dessas mortes, duas em cada três foram precedidas por algum tipo de violência doméstica que chegou ao conhecimento das autoridades.[ii]

Na maioria dos casos, e mulher e os filhos ou filhas, assim como o assassino, foram mortos com armas de fogo. Não obstante, como uma parte significativa desses homicídios familiares se dá longe da mídia, a população, inclusive as mulheres, vive preocupada com o latrocínio, o homicídio cometido como parte, desejada ou não, planejada ou não, de um assalto.

Há dezenas de pesquisas sobre o femicídio, em lugares e momentos diferentes, que chegaram a conclusões semelhantes.

A maior ameaça à vida de uma mulher não é o bandido que ninguém vê, mas é o assassino escondido em pele de cordeiro, do marido, namorado, ou ex-marido ou ex-namorado, munido de uma arma de fogo.



GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ


[i] Morton E, Runyan CW, Moracco KE e Butts J., Partner homicide-suicide involving female homicide victims: a population-based study in North Carolina, 1988-1992, em Violence Vict. 1998 Summer;13(2):91-106.
[ii] Kathryn E. Moracco, Carol W. Runyan e John D. Butts, Femicide in North Carolina, 1991-1993, A Statewide Study of Patterns and Precursors, em Homicide Studies.


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