BOTOX CONTRA O CÂNCER?

Entre as muitas substancias e medicamentos surge uma aliada inesperada na luta contra o câncer da próstata: o botox.

É uma toxina, que tem sido aplicada contra rugas na face e na testa. Bloqueia a ação dos nervos. É por esse caminho inverossímil que enveredaram Gustavo Ayala e colegas no Health Science Center, da Universidade do Texas, em Houston. O seu caráter inesperado e promissor levou a Prostate Cancer Foundation a financiar a pesquisa.

Ultimamente houve avanços no conhecimento do que é chamado do microambiente do tumor, inclusive do suprimento de sangue. Sem sangue, as células morrem. Os tumores criam uma rede de suprimentos para seguir crescendo. Há muitos medicamentos pensados para interferir no suprimento de sangue aos tumores, com resultados variados. Alguns miram a angiogênese, a criação de vascularização para alimentar o câncer.   

Mas, e os nervos? Qual o papel deles no câncer? As pesquisas do grupo de Ayala se concentram na criação de nervos e como afetar os tumores dificultando-a. Talvez o botox possa ajudar na tarefa.  

Os primeiros resultados mostram que o botox murchou essas células num experimentos com homens antes da cirurgia. É possível que injeções de botox diretamente no tumor maximizem os efeitos da cirurgia e da radioterapia. Ayala mostrou que quando as células cancerosas invadem a capa que protege os nervos elas são muito mais difíceis de matar. A equipe demonstrou que o câncer invade os nervos e provoca a formação de novos nervos necessários para a sua expansão.

Como foi a pesquisa? Foi concentrada em pacientes com câncer bilateral e Gleason 6 ou 7. Injetaram botox em um lado e solução salina na outra. Quatro semanas mais tarde os pacientes foram operados (prostatectomia) e a próstata foi examinada. É uma pesquisa Fase I. No lado em que o botox foi injetado, as células cancerosas murcharam em comparação com o lado controle, no qual injetaram a solução salina. Mais: não houve efeito sobre a vascularização sanguínea, o que sugere que o efeito do botox foi sobre os nervos.   

Agora o grupo de Ayala quer saber qual o melhor momento para usar o botox. Claro, se tudo der certo, ainda assim faltará muito tempo até poder ser usado clinicamente.

Sem dúvida, muita criatividade.

GLÁUCIO SOARES  IESP/UERJ 

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