Incesto, alcoolismo e dependência química

Em 1982, Jody Yeary escreveu um artigo que teve muito impacto, “Incest and chemical dependency”, publicado no Journal of Psychoactive Drugs. Há uma relação estatisticamente próxima entre o alcoolismo e o incesto. Em primeiro lugar, como esperado, muitos dos homens que cometeram atos incestuosos eram alcoólatras. Isso era esperado. Em segundo lugar, muitas das vítimas de incesto posteriormente se transformaram em viciad@s, em bebidas alcoólicas, drogas, ou ambas. Mais uma relação “intuitiva” e esperada. Não obstante, há uma sugestão de que essas relações algumas vezes funcionam numa causalidade invertida:

 

1.         muitos pais que praticam atos incestuosos sabem que o que fazem é errado e sentem culpa pelo que fazem ou fizeram. Uma das reações a essa pesada culpa é o alcoolismo ou a dependência em relação a outras drogas;

2.         outra inversão da causalidade esperada foi provocada pela descoberta de que o alcoolismo e o uso de drogas de mulheres adolescentes multiplica o risco de incesto. Hipotetizo que existe uma desvalorização da jovem viciada que se expressa na diferenciação tanto do “merecimento” quanto do dano causado. As adolescentes com vícios e dependências seriam vistas como menos puras, tornando o incesto menos traumáticos, por ser o sexo um comportamento que lhes é atribuído como corriqueiro e promíscuo. Embora exista uma relação entre dependência química e promiscuidade sexual, podemos encontrar a atribuição de promiscuidade mesmo onde ela não existe. Através desse processo, há uma redução subjetiva da culpa sentida pelo autor do incesto.

 

A redução da culpa implica em redução das dependências químicas. A culpa está relacionada com a aceitação ou rejeição cultural do incesto. Outras coisas sendo iguais, quanto maior a rejeição, mais culpa e, quanto mais culpa, mais alcoolismo e mais dependência em relação a outras drogas psicotrópicas.

 

GLÁUCIO SOARES             IESP-UERJ

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