No Brasil, a julgar pelas estatísticas oficiais, cerca de dez mil pessoas se
suicidam anualmente. Sabemos que é uma subestimativa, mas não sabemos de
quanto.
As correlatas do suicídio no Brasil se assemelham às de vários países. Temos
que comparar taxas, é claro, e não números absolutos. Homens mais do que
mulheres; idosos mais do que jovens e maduros; solteiros, divorciados e viúvos
mais do que casados e casadas e muito mais. Há profissões com taxas mais altas
do que a da população, algo que foi constatado em diversos países. Como exemplo,
algumas associadas com a saúde, militares e policiais. Devido às nossas
deficiências estatísticas, há um amplo número de variáveis relacionadas com o
suicídio que ficam de fora das análises no Brasil por falta de dados.
O imaginário popular pensa em ondas de suicídio. É difícil constatar ondas,
da dimensão de tsunamis, mas dentro de certos grupos ocupacionais foram
constatadas elevações temporárias das taxas em grupos específicos.
A literatura fez a ligação com o chamado Efeito Werther.
Na década de 1770, segundo Paul Marsden, do Graduate Research Centre in the
Social Sciences, University of Sussex, a Europa foi invadida pela moda de usar
calças amarelas, casacos azuis e camisas abertas. O que teria havido? Houve a
publicação do livro de Johann Wolfgang von Goethe, As Desventuras do Jovem
Werther, em 1774. Werther era um jovem apaixonado por Charlotte, mulher com um
casamento feliz. No livro, Werther se mata. O livro acabou sendo proibido em
vários países. A razão? Junto com a epidemia das roupas, sobreveio uma epidemia
de suicídio de jovens enfadados. A esta influência, convencionamos chamar de
Efeito Werther. Outro nome seria o efeito-imitação.
Estudos mais recentes relacionam a atenção dada pela mídia ao suicídio e seu
efeito sobre os suicídios. Alguns estudos demonstraram esse efeito - em alguns
casos, mas não em todos, as taxas aumentaram. Claro, a gigantesca maioria das
pessoas não imitou o suicídio divulgado e as pessoas, idosas ou não, continuaram
vivendo suas vidas. O que diferencia os "influenciáveis" dos demais? Steven
Stack critica os estudos sobre suicídios imitativos por deixarem de fora o
conceito de "audience responsiveness", o grau em que um público responde a um
estímulo e quem compõe esse público. O conceito é de Blumer.
Duas sub-teorias competem nessa explicação:
• uma afirma que as pessoas que, por quaisquer razões, estavam predispostas
são as de maior risco;
• outra afirma que as pessoas mais parecidas com o suicida divulgado são as
de maior risco;
• porém, nada impede que combinemos as duas.
A pesquisa de Stack sublinha que o risco de suicídio entre os idosos é mais
alto: dificuldades econômicas, solidão e doenças (físicas e mentais) tornariam
os idosos um público com mais alto risco. Usou séries temporais e marcou os
meses em que algum suicídio era divulgado pela mídia. Seus resultados indicam
que os meses nos quais um ou mais suicídios foram amplamente divulgados o número
de suicídios de idosos aumentou de dez suicidas (dez suicídios mensais a mais do
que a média, que era de 369). O efeito era maior quando o suicídio era de um
idoso ou idosa. Aí eram 19 suicídios adicionais.
Essa e outras razões fizeram com que a mídia em muitos países tenha um
código de ética a respeito da publicação de notícias sobre suicídios. Com razão:
o efeito Werther já foi comprovado inúmeras vezes. Detalhe: o suicídio de
pessoas que não eram "célebres" não aumentou os suicídios dos idosos.
Essas informações geraram o chamado Consenso de Viena, de 1987, depois de
uma série de suicídios em circunstancias semelhantes que foram amplamente
divulgados.
O artigo de Stack foi publicado em Journal of Aging Studies, Volume 4, Issue
2, Summer 1990, Pages 195-209.
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