Um dia num centro avançado de tratamento do câncer
Fui, hoje, ao Sloan Kettering. Parece que o tratamento
anti-hormonal está fazendo efeito. Eu sei que é só por algum tempo (a mediana
está entre 18 e 24 meses). Depois o PSA volta a crescer, indicando tendência
semelhante do câncer. Eu tinha dois nódulos no pulmão, que provocaram duas
hipóteses:
1.
não eram cânceres porque mudavam muito devagar ou
2.
Eram e eu resistia bem.
Eles desapareceram do CT scan, o que sugere que já eram
metástases. Mais duas hipóteses: o câncer já tinha metástase e era mais
agressivo do que pensávamos, mas o tratamento está funcionando. Como, se não
estivesse, sobrariam menos opções (e menos tempo de vida), o resultado foi bom.
O médico está preocupado com meus ossos, que estão
enfraquecendo, devido ao tratamento. Era esperado. Porém, acha que não posso
tomar remédio para isso agora por causa dos implantes - só mais tarde. O
tratamento preventivo, com denosumab, será começado em seis meses. Enquanto
isso, tenho que malhar muito, e continuar a tomar doses altas de vitamina D3 e
ter uma exposição diária, se possível, ao sol. Lembro que, nesse momento, esse problema não deriva do câncer
e sim do tratamento.
Na conversa com meu médico, levantei o problema de pesquisa
recente que conclui que o uso de terapia intermitente não é aconselhado para
pessoas cujo câncer NÃO estiver MUITO avançado. É o meu caso. Ele deixa a decisão
nas mãos dos pacientes, como acho que deve ser. Porém, agrega que a pesquisa,
até agora, é um resumo apresentado numa conferencia e que quando o artigo/relatório
inteiro for publicado e submetido às críticas do mundo profissional, as conclusões
podem mudar e os conselhos também.
Nessa altura, alguns leitores podem estar perguntando: qual a
diferença entre os dois tipos de tratamento?
O contínuo e o intermitente, inicialmente, são iguais. As
primeiras doses e os espaços entre elas são definidos da mesma maneira. Porém,
na versão intermitente, após umas doses se define uma linha, usualmente um
valor do PSA, que provoca o reinício do tratamento. É uma linha arbitrária. Uns
definem o valor a partir do PSA que o paciente apresentava no início do
tratamento (a mais freqüente é a metade). O meu PSA era 22 e fração; de acordo
com essa vertente, eu não tomaria as injeções de Lupron enquanto meu PSA
estivesse abaixo de 11. A grande vantagem da intermitente é que a quantidade de
acetato de luprolide colocada dentro do paciente é muito menor e os efeitos
colaterais também. A qualidade da vida é mais alta.
O médico tinha uma observação fria e ponderada: os pacientes
que decidirem “shave off some months from their life expectancy, Will have a
better quality of life.”
Shave off....
Tomei uma dose cavalar de Lupron hoje, para só voltar em seis
meses.
Esse é mais um capítulo da história da minha luta contra o
câncer. E vamos em frente!
Comentários
Você é realmente um exemplo! Força sempre e obrigada por aprender mais e mais, seja academicamente e agora pessoalmente!
Abraços,
Luciana Santana