Violência escondida


No início de dezembro, Pamela Donahue, de 50 anos foi encontrada com um tiro no peito na cidade de Providence. Foi levada por o hospital, onde morreu. Não, ela não foi morta em um assalto por um jovem delinquente negro, nem por um marido ou namorado ciumento, dois estereótipos. Após investigações, a polícia acusou Sendra J. Beauregard, de 42 anos, a amante e companheira de Pamela, pelo homicídio.

Quando pensamos em violência doméstica, temos uma imagem estereotipada de um alcoólatra esmurrando sua mulher ou companheira. Talvez seja a díade mais comum. Não obstante, como alerta a National Coalition of Anti-Violence Programs (NCAVP), nem todos os casos de violência doméstica são entre heterossexuais. Longe disso. Há muita violência doméstica entre homossexuais que pode e deve ser evitada. Osman Ahmed, que coordena o projeto antiviolência da NCAVP em Nova Iorque, avisou que a violência entre homo afetivos é um tema que está escondido debaixo do tapete. A consequência é a escassa atenção às vítimas de abuso e violência em relações desse tipo.

Quão frequentes são esses casos?

Há dois anos, os Centers for Disease Control and Prevention (CDC) divulgaram os primeiros resultados do estudo sobre a prevalência de violência doméstica, chamado de National Intimate Partner and Sexual Violence Survey (NISVS). Lesbicas e homens gay relataram terem sido vítimas de violência doméstica e violência sexual em níveis tão altos ou mais elevados do que os heterossexuais. Mulheres bissexuais tinham uma altíssima prevalência de estupro, violência física e stalking por um parceiro ou parceira, 61% tinham sido vitimadas uma ou mais vezes, bem mais do que as lesbicas (44%) e as heterossexuais (35%). Nove em dez das bissexuais foram vitimadas por homens, em flagrante contraste com as lesbicas, entre as que duas em três foram vítimas de outra mulher.

A pesquisa confirmou os resultados de outros estudos: a primeira vitimização ocorre cedo, entre os 11 e os 17 anos: 48% das bissexuais e 28% das heterossexuais. Mais bissexuais são atacadas na adolescência.

Uma política de combate à violência, inclusive a violência doméstica, não pode selecionar os tipos de vítimas que serão assistidas, nem os tipos de agressores que serão levados à justiça. Qualquer política necessita de dados honestos e completos para ser justa e eficiente.

 

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

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