Suicídios por imitação

Li, no New Scientist de 23 de Agosto, um interessante artigo de Steven Stack com o título de “Palavras Perigosas”. Trata dos efeitos deletérios da divulgação de suicídios, o chamado Efeito Werther. Ele obteve dados sobre os efeitos da divulgação do suicídio de Robin Williams. Esse tipo de pesquisa é antigo e bem fundamentado: em 1974, David Phillips já tinha averiguado o efeito dos suicídios que são noticia, no caso os que foram publicados na primeira página do The New York Times, de 1948 a 1967. Foram 34 suicídios. Na média, houve 22 suicídios a mais no mês que se seguiu a cada publicação. Um dos mais badalados, o de Marilyn Monroe, em 5 de Agosto de 1962, provocou um aumento de 197 suicídios no decorrer do mês seguinte. Uma análise de muitas pesquisas mostra que o tipo de suicídio cuja divulgação provoca outros suicídios é, sobretudo, de celebridades, particularmente de artistas e....de políticos.
Um possível recorde aconteceu na Coreia, onde o suicídio da atriz Choi Jin-shil em 2 de Outubro de 2008 provocou um crescimento nos suicídios, estimado em 429. Choi era popular, figurando em dezoito filmes. A Coreia tem uma taxa altíssima de suicídios, particularmente entre os idosos, e eles são notícia. Na média publicam notícias sobre suicídio 50 a 100 vezes por semana. No mês que se seguiu à morte de Choi houve mais de mil e seiscentos suicídios.
No Brasil não levamos em sério os suicídios, embora mais de dez mil brasileiros se matem anualmente.
Há tempo esse tema provoca debates entre os que defendem a outrance a obrigação da mídia em publicar tudo e os que defendem o chamado Consenso de Viena, que fala da responsabilidade da mídia em não publicar o que provoca dor, morte e sofrimento.
Palavras perigosas, decisões difíceis.

GLÁUCIO SOARES


PS – não, não estou dizendo que haverá suicídios depois das eleições nem que alguém deva se matar em função do resultado...


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